2004-08-20

Volúpia

VOLÚPIA


Florbela Espanca


No divino impudor da mocidade
Nesse êxtase pagão que vence a sorte,
Num frémito vibrante da ansiedade,
Dou-te o meu corpo prometido à morte!

A sombra entre a mentira e a verdade ...
A nuvem que arrastou o vento norte ...
- Meu corpo! trago nele um vinho forte:
Meus beijos de volúpia e de maldade!

Trago dálias vemelhas no regaço...
São os dedos do sol quando te abraço,
Cravados no teu peito como lanças!

E do meu corpo os leves aravescos
Vão te envolvendo em círculos dantescos
Felinamente, em voluptuosas danças...